Este mendigo,
é Cristo deitado,
exaurido,
pelos males do mundo sofrido,
na companhia de um simples,
um simples ser,
que em tal companhia se veio acolher.
E a perfeição está nos simples...
desgraçados na aparência,
mas fortes no querer
e na crítica à opulência.
Senti um bater de asa, na vidraça
E que graça!
Uma ave airosa, chegou fria
E carente
Dei-lhe abrigo, em meu coração.
E como pulsa meu querer,
De contente,
Imagino-te vistosa
De olhos verdes, atrevidos
Os seios recolhidos,
Ansiando pelo verbo acontecer
E a chuva bate loucamente.
O vento rodopia,
Uiva e pede atenção.
São fortes esses gemidos
De ais ou gritos de alguém,
A quem custa a contenção
Longe, longe
o amor anda em vaivém.
Sozinho, em afagos contigo,
Qual beija-flor, alinhavo versos,
De puro entretém.
Nesta tarde fria,
De vento e chuva que rodopia
Se enternece meu ser,
Ávido de mimos,
A necessitar de se aquecer.
É a saudade,
A recordar-te, com emoção
Algo bate na vidraça,
E que graça,
O vento não traz maldade
Apenas despertou com vivacidade
Uma grata e terna recordação
Pinga a chuva em tua vidraça
e que graça...
Chove aqui, chove ali
Escorre água pelo telhado
nublado
Pinga em minha vidraça
E por tua graça,
teus olhos, de verde mareado
lindos, confiantes
aproximam
nossos olhares, distantes ...
Chove aqui, chove ali
Pinga em nossa vidraça
E que graça,
encontro em tua impaciência
Chuva é vida,
em teu olhar,
Vou espiar-te devagar,
um regalo morninho
pinga, pinga a cantar
chove de mansinho
Eu te amo tanto, tanto
que a cada amanhecer,
é um novo encanto,
lírio puro e santo,
que planto por querer
Amanhecer com encanto lírico
Cuidando as flores, em teu olhar
Regando cada recanto em delírio
Oh lírio puro, tremo em te tocar
E beijo a seda de teu seio idílico
pinto trovas, com a lua a raiar
em ti musa e sereia, puro encanto
raro enlevo no amor que planto
Aromas de lírio, eterno cortejar
de rubras cerejas te vou coroar
Linda tela, com dotes de feitiço
Tu, enfeitada, acreditas nisso?
Oh Beja distante, aí plantei meu querer
No encanto de fruta colhida a namorar
Cerejas maduras, teus brincos a brilhar
Vida saborosa, com eterno amanhecer
Silêncio e solidão,
não quero não…
Meu Alentejo, quero teu pão
Minha borboleta, quer dançar
ou voar, na calma de um sonho
Seja Inverno ou Verão
Ofereço-te a luz da planície
A calma
A ilusão,
o sonho,
A dança e a contra-dança
o abraço, feito esperança
Um tango bordado, na perfeição
O mar está mesmo ao lado,
Aventura madura
Um consolo,
Vamos à bolina.
A vela te espera,
com jeito e bem segura.
A caravela navega,
Barca bela, de seda fina
Sonho lindo,
E o mar está bem lavrado
O luar move-se, meu aliado
Ilumina-te a alma, de meiguice
Sol e lua, o amor em teu lado
Que belo o ninho, já o disse
Meu afago doce, de ternura
Sinto carinho, sol em teu olhar
A noite corre, em mansidão
Miro a beleza terna e a alvura
Beijo o luar em teu coração
Minha mão, tua alma segura
Este é o canto, de puro encanto
Oh Alentejo da doce ventura
Nos dás o pão, nós o coração
doce troca, no forno de cozedura
No silêncio da noite
Só, mas não só,
insólito
Divagava e recordava,
Amava,
na solidão
Contigo entretido,
Larguei um gemido.
No silêncio da noite,
de amores perdido,
egoísta,
ciumava
contigo distante
Ciumava,
na solidão
contigo confundido
No silêncio da noite,
roído de desejo
teu beijo esperava
e para teus olhos olhava,
sonâmbulo,
no instante
contigo suspirava
No silêncio da noite
Um beijo me deste
bem ardente
Sonhava, sonhava
Adormeci , só,
mas não só,
com esse carinho
No silêncio da noite
O amor se consumava
Ardente,
entretido contigo
Sentia teu olhar felino
Ronronava
Insólito
Minha cereja divina,
de tão sensual
Por fora rubra,
cheia de louca paixão
Por dentro, um cherry de licor
Não sei se o meu se o teu amor,
natural
Eu imagino e sinto-me em ti, teu amor
ou teu licor?
Meu botão de estimação
Minha fruta madura, encarnada
Teu toque, tua leveza,
ao natural
Teu ser,
minha bebida espiritual
Toco a cereja, com o labio e a mão
Sinto o fragor
a doce tentação
Estou à procura de licor, sensual
Mordo ou não?
A ternura bordada em vida minha
Tão meiga e linda, cheia de doçura
Leva-me a beijar a delicada linha
Da musa e fada que fez a costura
Vidas bordadas em linha de seda
Pano e linha, unidos na perfeição
Projectos comuns vividos, oh fada
Realidade e sonho, vidas em união
Sentir tua linha, em mim bordada
Sinto-me abrigo, de teu bem querer
clara luz, a iluminar nossa jornada
tua cálida meiguice hei-de merecer
Bordaste em mim, amor e carinho
O coração cintila, de pura gratidão
O pano que cozeste oferta o ninho
Venha a linha, casar com o botão
Mãe, agora saudade,recordação pura
outrora carinho, dedicação, tudo dado
Te foste da vida, tão cedo, coisa dura
Ainda tenho medo, estou ainda gelado
Mulher e mãe, uma grata criação divina,
Vos superais em cada acto, em amor
Forte, corajosa, mesmo a pequenina
Dádiva maternal, mais bela que a flor
Em segredo, digo à minha que a adoro
Todos a temos ou tivemos, um consolo
A minha é recordação, por isso choro
Grata recordação e com pertinência
Vou tentar ser o homem que querias
correcto e amável, justo na convivência
Dia e noite
Noite e dia
Ou à hora do meio-dia
revivo, bem acordado,
Divago…
Recordo a cor do sol
E aquela fonte viva,
Paraíso de mil cores
Raro lugar, para amores
Nela, dos calores te libertei
E dos amores, delirei
Teu rosto iluminado
Me via, esperançado,
Abençoado com teu olhar.
As almas pairando,
Como se acariciando
A natureza em redor
Observava com bonomia
O carinho que via
Naquele dar-se de amor
Cantava a fonte e dizia:
- De amor, sei que vos amais!
Limpai vossos temores,
Esquecei vossos horrores
Esquecei os rumores
de quem mal vivia,
Vede o amor dos pardais!
Na árvore defronte,
Abalaram os demais
Nos abraçámos os dois
Com o aplauso dos pardais.
As carícias vieram depois
E que dizer de teus ais?
Naquela fonte que te lavou
As cores ao redor, tudo pasmou
Com tanta formosura tua
com o mel de teu olhar, fascinando
tanta candura e formosura tua
Mais ninguém se dessedentou
A não ser o sol e a lua
a luz a vai iluminando
alma minha, alma tua